O Têxtil na Contemporaneidade: Artesanato

Inegavelmente o artesanato têxtil está presente na contemporaneidade e é responsável por questões ligadas a fonte de renda e manutenção das tradições, técnicas e simbolismos de nossa cultura. Além disso, desde a Bauhaus (onde as técnicas têxteis tinham uma preocupação de estarem unidas à pesquisa e à criação), a produção de muitos artistas e designers fazem uso do “saber” e “fazer” artesanal para executar e/ou inspirar seus trabalhos, tornando assim o manual e o intelectual inseparáveis.
Historicamente o Brasil tem uma longa tradição e ligação com o têxtil. Desde seus primeiros anos de colonização foram instaladas oficinas artesanais, tanto em comunidades urbanas quanto rurais, principalmente no território mineiro. Mas, em 1785 (CAURIO, 1985, p.74) o alvará assinado por D. Maria I, proibia todas as manufaturas de tecelagens e similares. Essa proibição se deu pela diminuição das importações brasileiras de tecidos da Inglaterra, com a qual haviam assinado o Tratado de Methuen, em 1702 que, segundo ele, Portugal e suas colônias se obrigavam a importar tecidos ingleses em troca das importações de vinhos lusitanos. Essa interdição durou por mais de 20 anos. Como houve muitas perseguições, somente teares clandestinos em regiões afastadas dos grandes centros conseguiram se salvar. Essa situação só foi revertida em 1808, quando Dom João anulou os alvarás de sua mãe e autorizou a produção artesanal caseira.
A produção que se iniciou praticamente clandestinamente e longe dos grandes centros, atualmente está presente tanto no meio urbano quanto rural e produzida por pessoas de diferentes formações. Sendo assim, o artesanato se torna um objeto de estudo necessário e importante por estar vinculado a um universo que abrange aspectos históricos, econômicos e teóricos. Por esta razão, este texto se propõem a apresentar alguns conceitos básicos e idéias que serão aprofundadas em postagens futuras.
Podemos entender o artesanato como o meio de transformar a matéria-prima em objetos utilitários, produzidos manualmente ou com a utilização de ferramentas que não ameaça o predomínio do “fazer”. Segundo a Fundação Nacional de Arte – Instituto Nacional do Folclore, “significa um fazer, ou o resultado de um fazer manual”.
Porém, na contemporaneidade, precisamos entender o “fazer” e “saber” do artesanato com profundidade, pois a formação de pessoas envolvidas em sua produção vai além da aprendizagem empírica e familiar. Como artistas e também designer estão atuando juntamente com o artesanato de forma organizada e com preocupações econômicas e de sustentabilidade, novos conceitos e resultados surgiram. Em decorrência disso, passaram a ser inseridos no artesanato novos processos para antigas fórmulas, com um pensamento voltado às preocupações e necessidades de quem aprecia, comercializa e adquire o artesanato têxtil.
Segundo o SEBRAE, entidade atuante na formalização e apoio ao artesanato, além do Artesanato Tradicional e do Artesanato de Referência Cultural, existe também um Artesanato Conceitual. Esse Artesanato Conceitual se caracteriza por apresentar elementos de inovação que o distingue das outras categorias e são produzidos a partir de um projeto, contendo percepções de valores e estilos de vida.
Dentro desta mesma linha de interesse de estudo, A Casa – Museu do Objeto Brasileiro, uma instituição que tem como objetivo “contribuir para o reconhecimento, valorização e desenvolvimento da produção artesanal e do design”, faz uso do termo “Artesanato Contemporâneo”. Definido como:
“Atividade que recorre a repertório cultural e tecnológico amplos para a produção de objetos, associando referentes estéticos-culturais, design de novos produtos, novas matérias primas e formas de produção. Em larga medida, seu valor comercial está determinado pelo equilíbrio entre valor expressivo e valor de uso”.

Optei inicialmente escrever sobre esse tema porque, mesmo intitulando-me designer têxtil, as bases técnicas do artesanato estão muito presentes em meu trabalho. Nos textos seguintes, abordarei também temas como o design e a arte têxtil, questões históricas e contemporâneas relativas ao têxtil.

Apoio bibliográfico:
CAURIO, Rita. ARTÊXTIL No Brasil-Viagem pelo Mundo da Tapeçaria. Rio de Janeiro: Primor, 1985.
Fundação Nacional de Arte. Instituto Nacional do Folclore. Artesanato Brasileiro: Tecelagem. Textos de Amália Lucy Geisel e Raul Lody. RJ 1983
http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-artesanato/artesanato-no-sebrae
http://www.acasa.org.br/ensaio.php?id=20&modo

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas