Entrevista para NIA Projektua
Vera Felippi é Designer
têxtil, mestranda em Design (UFRGS) com pesquisa na área têxtil, graduada em
Artes, com habilitação em História, Teoria e Crítica (UFRGS). Na entrevista a
seguir ela fala da sua carreira, o interesse pela área têxtil e pesquisa.
1 – Como surgiu o interesse por pesquisa na área têxtil?
Sempre estive ligada de alguma forma à área têxtil, mas o assunto
tornou-se interesse profissional e acadêmico a partir de 1996 quando decidi
aprender tecelagem manual. A partir daí me dediquei ao estudo teórico e
prático para conhecer profundamente as possibilidades de entrelaçamento de fios
com o tear manual. Logo fiz um curso de Estilismo e a partir de 2000
iniciei como designer têxtil na Fiateci (onde estou até hoje) e passei a atuar
também em um cenário bem diferente, ou seja, tecidos industriais, processos
industriais e conhecimento de um novo mercado. Poder atuar com o
design têxtil tanto em pequena escala, quanto em nível industrial, é
muito gratificante pois consigo ter uma visão bastante ampla da área têxtil.
2 – No teu blog o trabalho de
tecelagem e renda são fortemente abordados, o que te chama atenção nessas duas
técnicas?
A tecelagem manual foi o início de todo meu interesse pela área
têxtil. Com a renda, meu interesse se deu a partir
de 2007 quando aprendi a técnica de agulha inspirada na renda irlandesa.
São técnicas muito diferentes mas nas duas é possível obter resultados
surpreendentes. Na renda o que mais me chama a atenção é que, principalmente
aqui em Porto Alegre, a técnica não é muito difundida. Dominar uma técnica
pouco conhecida e explorada é fascinante e desafiador.
3 – Ainda falando sobre técnicas, tu gosta de misturar elas?
Não misturo as técnicas por alguns motivos, mas o principal é a
diferença das estruturas têxteis.
A renda proporciona uma estrutura têxtil maleável (como
uma malha) e ela pode moldar-se ao corpo. Na tecelagem, a estrutura
têxtil resultante não permite essa maleabilidade, ou seja, produzo peças com
modelagens mais amplas.
4 – Qual o teu objetivo como Designer Têxtil? Possui algum projeto?
Meu objetivo como designer têxtil é dar continuidade na exploração das
técnicas que conheço, para obter resultados inovadores no que diz respeito a
tecidos, aplica-los em roupas e acessórios e manter o reconhecimento
por esse trabalho. Além disso, possuo alguns projetos… um deles é
uma parceria com uma amiga, que também é designer para desenvolvimentos de
acessórios integrando a tecelagem e a renda com
joalheria. Outro é a continuidade de cursos para divulgação da técnica de
renda de agulha. O que chama a atenção nos cursos é que há interesse de
pessoas de diversas áreas, de estudantes e profissionais ligados à moda,
artesãos e designers.
5 – Na tua formação acadêmica tu possui uma graduação em Artes e uma
habilitação em História e Teoria Crítica. Gostaríamos de saber como tu
relaciona com a pesquisa na área têxtil.
Tenho muito interesse por dois pontos: a história e as questões ligadas
a arte, tanto a arte têxtil quanto as representações do têxtil transposto
para outros materiais.
Como não é só a parte prática das técnicas que me interessa, sempre
procuro compreender como determinada técnica surgiu ou teve sua importância
na História. Por exemplo, no caso das rendas, os aspectos históricos são
riquíssimos pois trata-se de um “objeto” têxtil presente
na civilização e que, durante séculos, somente a nobreza teve
acesso. Durante a Revolução Industrial o cenário começa a mudar com as
máquinas criadas para reproduzir as rendas feitas à mão, não que elas passaram
a ser populares, mas o acesso às rendas começa a se ampliar.
Na tecelagem, da mesma forma, se estudarmos as tecelagens manuais feitas
no Perú, durante o Império Inca por exemplo, é possível identificar que até
hoje reproduzimos formas de entrelaçamento de fios feitas naquela
região.
Outras relações históricas podem ser abordadas, apenas citei essas para
exemplificar meu fascínio pela História.
6 – Gostaríamos de conhecer mais sobre a tua história, desde o ínicio da
carreira até o teu atual período. Seria interessante que tu também falasse de
alguns dos teus trabalhos.
Desde que aprendi a técnica de tecelagem manual fiz grande esforço no
sentido de testar materiais e explorar a técnica. Com isso, aos poucos fui
obtendo resultados inovadores para uso em roupas e acessórios. Uma
característica importante é que esses resultados tornam as peças criadas
atemporais e minhas clientes mantém as peças em seus guarda roupas por muito
tempo, tenho uma preocupação com a estética e a qualidade para que
isso ocorra.
Esses resultados já chamaram atenção de algumas marcas de Porto
Alegre e São Paulo, para as quais fiz desenvolvimentos exclusivos. Um
desafio muito gratificante é poder desenvolver acessórios também para a moda
masculina, que são comercializadas na loja Hemb de Porto Alegre.
Outro reconhecimento aconteceu no ano passado quando submeti uma peça em
renda para o 3o. Prêmio do Objeto Brasileiro, realizado pelo Museu do Objeto
Brasileiro de São Paulo. A peça foi selecionada na categoria produção autoral,
ficou exposta durante o evento e atualmente faz parte do acervo virtual da
instituição. (http://www.acasa.org.br/colecao/3º-premio-objeto-brasileiro )
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