Entrevista para NIA Projektua


 
 
Posted: dezembro 12th, 2013 | Author: niaprojektua | Filed under: Sem categoria | No Comments »
Vera Felippi é Designer têxtil, mestranda em Design (UFRGS) com pesquisa na área têxtil, graduada em Artes, com habilitação em História, Teoria e Crítica (UFRGS). Na entrevista a seguir ela fala da sua carreira, o interesse pela área têxtil e pesquisa.
1 – Como surgiu o interesse por pesquisa na área têxtil?
Sempre estive ligada de alguma forma à área têxtil, mas o assunto tornou-se interesse profissional e acadêmico a partir de 1996 quando decidi aprender tecelagem manual. A partir daí me dediquei ao estudo teórico e prático para conhecer profundamente as possibilidades de entrelaçamento de fios com o tear manual. Logo fiz um curso de Estilismo e a partir de 2000 iniciei como designer têxtil na Fiateci (onde estou até hoje) e passei a atuar também em um cenário bem diferente, ou seja, tecidos industriais, processos industriais e conhecimento de um novo mercado. Poder atuar com o design têxtil tanto em pequena escala, quanto em nível industrial, é muito gratificante pois consigo ter uma visão bastante ampla da área têxtil.
2 – No teu blog o trabalho de tecelagem e renda são fortemente abordados, o que te chama atenção nessas duas técnicas? 
A tecelagem manual foi o início de todo meu interesse pela área têxtil. Com a renda, meu interesse  se deu a partir de 2007 quando aprendi a técnica de agulha inspirada na renda irlandesa. São técnicas muito diferentes mas nas duas é possível obter resultados surpreendentes. Na renda o que mais me chama a atenção é que, principalmente aqui em Porto Alegre, a técnica não é muito difundida. Dominar uma técnica pouco conhecida e explorada é fascinante e desafiador.
3 – Ainda falando sobre técnicas, tu gosta de misturar elas? 
Não misturo as técnicas por alguns motivos, mas o principal é a diferença das estruturas têxteis.
A renda proporciona uma estrutura têxtil  maleável (como uma malha) e ela pode moldar-se ao corpo. Na tecelagem, a estrutura têxtil resultante não permite essa maleabilidade, ou seja, produzo peças com modelagens mais amplas.
4 – Qual o teu objetivo como Designer Têxtil? Possui algum projeto?
Meu objetivo como designer têxtil é dar continuidade na exploração das técnicas que conheço, para obter resultados inovadores no que diz respeito a tecidos, aplica-los em roupas e acessórios e manter o reconhecimento por  esse trabalho. Além disso, possuo alguns projetos… um deles é uma parceria com uma amiga, que também é designer para desenvolvimentos de acessórios integrando a tecelagem e a renda com joalheria. Outro é a continuidade de cursos para divulgação da técnica de renda de agulha. O que chama a atenção nos cursos é que há interesse de pessoas de diversas áreas, de estudantes e profissionais ligados à moda, artesãos e designers.
 
5 – Na tua formação acadêmica tu possui uma graduação em Artes e uma habilitação em História e Teoria Crítica. Gostaríamos de saber como tu relaciona com a pesquisa na área têxtil. 
Tenho muito interesse por dois pontos: a história e as questões ligadas a arte, tanto a arte têxtil quanto as representações do têxtil transposto para outros materiais.
Como não é só a parte prática das técnicas que me interessa, sempre procuro compreender como determinada técnica surgiu ou teve sua importância na História. Por exemplo, no caso das rendas, os aspectos históricos são riquíssimos pois trata-se de um “objeto” têxtil presente na civilização e que, durante séculos, somente a nobreza teve acesso. Durante a Revolução Industrial o cenário começa a mudar com as máquinas criadas para reproduzir as rendas feitas à mão, não que elas passaram a ser populares, mas o acesso às rendas começa a se ampliar.
Na tecelagem, da mesma forma, se estudarmos as tecelagens manuais feitas no Perú, durante o Império Inca por exemplo, é possível identificar que até hoje reproduzimos formas de entrelaçamento de fios feitas naquela região.
Outras relações históricas podem ser abordadas, apenas citei essas para exemplificar meu fascínio pela História.
 
6 – Gostaríamos de conhecer mais sobre a tua história, desde o ínicio da carreira até o teu atual período. Seria interessante que tu também falasse de alguns dos teus trabalhos.
Desde que aprendi a técnica de tecelagem manual fiz grande esforço no sentido de testar materiais e explorar a técnica. Com isso, aos poucos fui obtendo resultados inovadores para uso em roupas e acessórios. Uma característica importante é que esses resultados tornam as peças criadas atemporais e minhas clientes mantém as peças em seus guarda roupas por muito tempo, tenho uma preocupação com a estética e a qualidade para que isso ocorra.
Esses resultados já chamaram atenção de algumas marcas de Porto Alegre e São Paulo, para as quais fiz desenvolvimentos exclusivos. Um desafio muito gratificante é poder desenvolver acessórios também para a moda masculina, que são comercializadas na loja Hemb de Porto Alegre.
Outro reconhecimento aconteceu no ano passado quando submeti uma peça em renda para o 3o. Prêmio do Objeto Brasileiro, realizado pelo Museu do Objeto Brasileiro de São Paulo. A peça foi selecionada na categoria produção autoral, ficou exposta durante o evento e atualmente faz parte do acervo virtual da instituição. (http://www.acasa.org.br/colecao/3º-premio-objeto-brasileiro )


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