Tule: um pouco de história e da técnica

A palavra tule, deriva da cidade francesa Tulle, embora Earnshaw (1) menciona que a cidade de Toul, também francesa, compete pela origem do nome.

Detalhe de renda bordada sobre tule
Tule 100 poliamida e bordado em 100% viscose

Mas voltando à cidade de Tulle... em meados do século XVIII ali se produzia manualmente uma base (ou rede) com pequenos vazados com formato hexagonal. Inicialmente produzida com fios de seda. Como tratava-se de uma produção lenta, foram feitas tentativas de produzir mecanicamente a estrutura. A tentativa de 1765 foi considerada como bem sucedida quando um tecido similar ao que conhecemos hoje foi produzido em um tear “warp frame” (2).

O termo tule é abrangente, sendo que podemos dar este nome para muitas estruturas têxteis que tem como característica ser uma rede formada por espaços vazios com formato hexagonal. Mas, destaca-se que tule é um dos tipos de redes existentes. Isto porque é possível chamar de rede outras bases, como por exemplo, a utilizada no bordado filé e a estrutura resultante do tear bobbinet (sendo esta última muito similar ao tule francês).

O tear bobbinet tem um papel crucial nesta história e foi inventado em 1809 por John Heathcoat (1783-1861), que é considerado o pai dos teares mecânicos de produção de rendas. Através do tear bobbinet muitos outros teares se desenvolveram. Mas até os dias de hoje o tear bobbinet é considerado uma invenção engenhosa.

Detalhe de tear bobbinet de 1853.

A imagem abaixo mostra o esquema técnico feito por John Heathcoat para tule bobbinet sem padrão (liso), conforme documentado em 1809 e disponibilizado pelo arquivo da empresa Swisstulle (3)

Fonte: Swisstulle UK Ltd

E você sabe como se determina o quão fina é uma estrutura têxtil do tule bobbinet?

Segundo a empresa Swisstulle, que produz tule em teares bobbinet e também redes em outros tipos de teares, é número de vazados (furos) que determina a finura do tule e é calculado contando seu número em um quadrado de 25 mm de material, tanto na direção da urdidura quanto na direção da trama na diagonal. O vazado (furo) da borda é contado duas vezes conforme ilustrado no esquema abaixo: 


Caso prefira, você pode assistir ao vídeo ou conheça outros conteúdos em meu canal do YouTube.



Este assunto muito interessa por conta de uma tipologia de renda que são as rendas bordadas, pois muitas dessas rendas são bordadas à mão ou à máquina sobre tules. E, certamente, vai interessar a pesquisadores ou profissionais que estudam rendas. 

 
 
Renda bordada sobre tule

Detalhe de renda bordada sobre tule

Neste post você aprendeu um pouco sobre a história e detalhes técnicos sobre tule que dificilmente vemos publicado na internet (e até mesmo em livros sobre tecnologia têxtil)

Saiba também que em setembro (2022), vou ministrar o curso “Identificação de rendas: análise de técnicas do século XV ao XXI” e vou abordar a história deste e de muitos outros teares de produção de renda. Independente se você fizer ou não o curso, aqui você aprendeu um pouco sobre o assunto. E, possivelmente além da edição de setembro, outras virão...

Acesse o link para informações sobre o curso: Curso Identificação de rendas

Obrigada e até o próximo post. 

Vera


Referências:

(1) Earnshaw, Pat. A dictionary of lace. London: Shire Publications, 1988.

(2) Felippi, Vera. Decifrando rendas: processos, técnicas e história. Disponível em: https://issuu.com/verafelippi/docs/decifrando_rendas_ebook-compacto_verafelippi

(3) Site da empresa Swisstulle: https://www.swisstulle.co.uk/about-us 

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