Renda Chantilly: origem e história desta técnica feita com bilros


Chantilly é uma cidade que fica ao norte de Paris, na França, de onde também originou-se um tipo de renda de bilros. 
De acordo com Pat Earnshaw, a renda surgiu a partir da segunda metade do século XVIII e era tecida em seda na cor preta. Com o passar do tempo, também a cor branca foi introduzida, porém em menor quantidade. Acrescenta-se aqui que as rendas (feitas à mão) de cor preta eram mais caras do que as brancas porque seu tempo de produção era maior, pois o fio preto era difícil de ser manipulado com os bilros pelas rendeiras.
A renda chantilly produzida no século XVIII tem como característica ser uma renda contínua, ou seja, o fio que tece a base e os motivos é o mesmo. Os pontos empregados é que fazem a diferença, por exemplo, na base empregava-se o meio-ponto que conferia leveza e pontos fechados eram utilizados para tecer os motivos, com predomínio de florais de extrema delicadeza. 


Em todas as publicações sobre a renda, há a menção de que era a renda favorita de Mme du Barry, amante de Louis XV e também de Maria Antonieta, esposa de Louis XVI. 
Com a queda da aristocracia na Revolução Francesa, a produção desta renda entrou em colapso, visto que muitos muitos aristocratas da época que as usava em abundância para adornar suas roupas foram parar na guilhotina. Aliás, Köhler (1993) aponta que entre 1791 e 1792 "ricos e pobres tinham o cuidado de vestir-se de maneira mais despojada possível, pois qualquer pessoa cuja aparência a colocasse sob a suspeita de ser um aristocrata corria risco de vida".
De acordo com Pat Earnshaw, a fúria não recaiu somente na aristocracia. Segundo a autora, os centros produtores de rendas para a realeza foram extintos, inclusive com morte de rendeiras.
As roupas ricamente adornadas saem de cena e a renda, de modo geral, só retorna aos poucos no adorno do vestuário feminino a partir de 1805.

O retorno foi apoiado e também patrocinado por Napoleão I. Além disso, sua produção se desloca de Chantilly para a região da Normandia, mais especificamente na cidade de Bayeux, porém a antiga técnica e seu design se mantem. 
Com o passar do tempo, a renda chantilly também passa a ser produzida na Bélgica e algumas alterações nos motivos e nos fios naturalmente ocorrem. 

Por volta de 1836, a renda chantilly foi também imitada em teares Jacquard, os quais teciam a base e os motivos, mas o fio de contorno que adornava os motivos eram costurados à mão. Mais tarde, a partir de 1840, a renda passa a ser reproduzida em teares como os teares Pusher e Leavers, teares específicos para rendas. Earnshaw (1983) comenta que a produção nos teares mecânicos faziam cópias quase perfeitas, tanto na cor preta quanto branca. 

Poucos exemplares da renda chantilly produzida no século XVIII são encontradas nos dias de hoje, isso porque para obter a cor preta fazia-se uso de ácido que continha ferro que, com o passar do tempo, oxidava resultando na perda da cor e quebra da fibra. 

A renda chantilly concorria com a renda alençon na corte francesa, pois apenas os dois tipos de renda podiam ser usados na corte de Napoleão I. Sobre a renda alençon trataremos no post da próxima semana.

Referências:

EARNSHAW, Pat. Lace in Fashion-from the sixteenth to the twentieth centuries. Guildford: Gorse Publications, 1991. 
_____. Bobbin & Needle lace – Identifications and Care. London: Batsford Craft Ltda, 1983.
_____. The Identification of Lace. 3th. ed. London: Shire Publications Ltd, 2000.
Köhler, Carl. História do Vestuário. São Paulo: Martins Fontes. 1993. 

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