Renda de bilros: sua história pela arte
Você sabia que até mesmo Salvador Dali pintou uma rendeira? Sim! Caso tenha a curiosidade sobre essa obra e outras que contribuíram para ilustrar esse ofício, lhe convido para ler o texto que segue...
A arte contribui para narrar e dar indícios da História, mesmo que com algumas alegorias, são registros importantes. No texto de hoje, vamos tratar de ilustrar um pouco da história da renda de bilros pelas pinturas de grandes artistas, isso porque esses registros em muito contribuíram para rastrear locais de produção de renda, quem as usava e quem as produzia. Mesmo que nomes de rendeiras raramente eram mencionados, o fato da existência das pinturas demonstra que o ofício estava presente de alguma forma na vida do artista.
As obras aqui citadas dizem respeito ao ofício em si. O produto deste ofício, era de grande valor para aristocratas e nobres que compravam as rendas a peso de ouro, principalmente nos séculos XVI, XVII e XVIII. Algumas considerações acerca disso podem ser conferidas no artigo Rendas: desvendando e revelando a coleção de rendas do Museu Moda e Têxtil UFRGS que escrevi em 2018.
De acordo com Pat Earnshaw (1984) as evidências para o início da renda de bilros como a conhecemos hoje, são evidências coletadas em inventários, na literatura, em livros de padronagens e nos retratos. A autora aponta que a mais antiga menção à rendas em inventários é da família Sforza em 1493. No inventário foram listados uma grande quantidade de itens de decoração com rendas de recorte e rendas feitas de nós "com agulha, bilros, ossos e de outras maneiras"(EARNSHAW, 1984, p.19).
Voltando agora ao foco deste texto que é a de apresentar algumas importantes obras de arte que retratam rendeiras, me reporto mais uma vez à autora para iniciar a "lista" e, posteriormente, dou continuidade com nomes de artistas e suas obras.
Em 1495, uma pintura da Bélgica, mostra uma mulher fazendo renda de bilros. A autora menciona "pillow lace", que em português podemos traduzir como renda em almofada. Isto porque o termo "renda de bilros" ainda não estava consolidado. A obra em questão foi atribuída a Quentin Massys (1466-1530), mas atualmente acredita-se ser um trabalho de seu filho, pintado em um período muito posterior.
Em 1549, bibliografias mencionam o registro do retrato de uma lady pintado por Lucas Cranach que mostra um lenço sendo torcido em suas mãos com bordas que parecem ser de renda de bilros. (Infelizmente não consegui uma imagem desta obra pra ilustrar)
Em 1580 Martin de Vos (c.1534-1603) produz uma série intitulada "The seven ages of man" onde há uma menina - representação de Vênus - que está trabalhando no que parece ser uma almofada com bilros. A obra é mencionada como umas das primeiras a representar uma rendeira (Earnshaw, 1984), ou que muito se aproxima de uma rendeira.
Em 1662 cito a obra de Caspar Netscher (1639-1684), pintura a óleo que mede 33 x 27 cm, intitulada "The lace maker" de 1662 que pertence a Wallace Collection de Londres.
Em 1669-1671 o destaque fica por conta da obra de Johannes Vermeer(1632-1675), intitulada "The lacemaker". Trata-se de uma pintura a óleo sobre tela, que pertence ao acervo do Louvre em Paris.
Em 1823, a pintura "Lace making beauty" de Vasily Tropinin (1776-1857), pintor russo, tinha como foco a jovem, porém aos meus olhos, é sua tarefa que chama atenção. A obra pertence à Galeria Tretiakov de Moscou.
Em 1843 Johann Cornelius Mertz (1819-1891), artista alemão, pintou "The lace maker" com a técnica óleo sobre tela com 50cm x 65cm.
Em 1906, Louis Valtat (1869-1952), artista impressionista, pintou sua "La dentellière" na região da Normandia, na França. A obra pertence a uma coleção particular dos EUA.
Em 1955, para minha grande surpresa, descubro que Salvador Dali também pintou uma rendeira. O que talvez seja o mais curioso é que a obra é uma cópia da obra de Veermer. De acordo com o site do Metropolitan Museum, Salvador Dali começou a pintar a obra em 1954 e correspondências entre Robert Lehman e Dalí sugerem que o colecionador encomendou a cópia para para o artista. Na imagem abaixo atentem para a assinatura do artista no alto da pintura.
As obras aqui mencionadas foram uma breve tentativa de ilustrar que em diferentes países, tais como Inglaterra, Alemanha, Rússia, Holanda França e Espanha rendeiras foram retratadas. Em muitos outros países provavelmente também existiram artistas que o fizeram, mas aprofundar esse ponto é assunto para um texto futuro...
Caso você tenha interesse em mais conteúdos que escrevi sobre renda de bilros acesse o artigo Renda de bilros: estudo de pontos nas regiões nordeste e sul do Brasil
Além disso, compartilhem, comentem ou façam sugestões para que os conteúdos fiquem cada vez melhores e proveitosos.
Referências:
Earnshaw, Pat. A dictionary of Lace. Shire Publicacions Ltd. 1984.
A arte contribui para narrar e dar indícios da História, mesmo que com algumas alegorias, são registros importantes. No texto de hoje, vamos tratar de ilustrar um pouco da história da renda de bilros pelas pinturas de grandes artistas, isso porque esses registros em muito contribuíram para rastrear locais de produção de renda, quem as usava e quem as produzia. Mesmo que nomes de rendeiras raramente eram mencionados, o fato da existência das pinturas demonstra que o ofício estava presente de alguma forma na vida do artista.
As obras aqui citadas dizem respeito ao ofício em si. O produto deste ofício, era de grande valor para aristocratas e nobres que compravam as rendas a peso de ouro, principalmente nos séculos XVI, XVII e XVIII. Algumas considerações acerca disso podem ser conferidas no artigo Rendas: desvendando e revelando a coleção de rendas do Museu Moda e Têxtil UFRGS que escrevi em 2018.
De acordo com Pat Earnshaw (1984) as evidências para o início da renda de bilros como a conhecemos hoje, são evidências coletadas em inventários, na literatura, em livros de padronagens e nos retratos. A autora aponta que a mais antiga menção à rendas em inventários é da família Sforza em 1493. No inventário foram listados uma grande quantidade de itens de decoração com rendas de recorte e rendas feitas de nós "com agulha, bilros, ossos e de outras maneiras"(EARNSHAW, 1984, p.19).
Voltando agora ao foco deste texto que é a de apresentar algumas importantes obras de arte que retratam rendeiras, me reporto mais uma vez à autora para iniciar a "lista" e, posteriormente, dou continuidade com nomes de artistas e suas obras.
Em 1495, uma pintura da Bélgica, mostra uma mulher fazendo renda de bilros. A autora menciona "pillow lace", que em português podemos traduzir como renda em almofada. Isto porque o termo "renda de bilros" ainda não estava consolidado. A obra em questão foi atribuída a Quentin Massys (1466-1530), mas atualmente acredita-se ser um trabalho de seu filho, pintado em um período muito posterior.
Em 1549, bibliografias mencionam o registro do retrato de uma lady pintado por Lucas Cranach que mostra um lenço sendo torcido em suas mãos com bordas que parecem ser de renda de bilros. (Infelizmente não consegui uma imagem desta obra pra ilustrar)
Em 1580 Martin de Vos (c.1534-1603) produz uma série intitulada "The seven ages of man" onde há uma menina - representação de Vênus - que está trabalhando no que parece ser uma almofada com bilros. A obra é mencionada como umas das primeiras a representar uma rendeira (Earnshaw, 1984), ou que muito se aproxima de uma rendeira.
Fonte: The seven ages of man. Martin de Vos. 1580
Em 1662 cito a obra de Caspar Netscher (1639-1684), pintura a óleo que mede 33 x 27 cm, intitulada "The lace maker" de 1662 que pertence a Wallace Collection de Londres.
Fonte: The lace maker. Caspar Netscher. 1662
Fonte: The lacemaker. Johannes Vermeer. 1669-1671
Lace making beauty. Vasily Tropinin. 1823.
Em 1843 Johann Cornelius Mertz (1819-1891), artista alemão, pintou "The lace maker" com a técnica óleo sobre tela com 50cm x 65cm.
Fonte: The lace maker. Johann Cornelius Mertz. 1843.
Em 1906, Louis Valtat (1869-1952), artista impressionista, pintou sua "La dentellière" na região da Normandia, na França. A obra pertence a uma coleção particular dos EUA.
La dentelliere. Louis Valtat. 1906.
Em 1955, para minha grande surpresa, descubro que Salvador Dali também pintou uma rendeira. O que talvez seja o mais curioso é que a obra é uma cópia da obra de Veermer. De acordo com o site do Metropolitan Museum, Salvador Dali começou a pintar a obra em 1954 e correspondências entre Robert Lehman e Dalí sugerem que o colecionador encomendou a cópia para para o artista. Na imagem abaixo atentem para a assinatura do artista no alto da pintura.
Fonte: The lacemaker. Salvador Dali. 1955
As obras aqui mencionadas foram uma breve tentativa de ilustrar que em diferentes países, tais como Inglaterra, Alemanha, Rússia, Holanda França e Espanha rendeiras foram retratadas. Em muitos outros países provavelmente também existiram artistas que o fizeram, mas aprofundar esse ponto é assunto para um texto futuro...
Caso você tenha interesse em mais conteúdos que escrevi sobre renda de bilros acesse o artigo Renda de bilros: estudo de pontos nas regiões nordeste e sul do Brasil
Além disso, compartilhem, comentem ou façam sugestões para que os conteúdos fiquem cada vez melhores e proveitosos.
Referências:
Earnshaw, Pat. A dictionary of Lace. Shire Publicacions Ltd. 1984.
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