Você sabe o que é renda “guipure” e de quando são seus primeiros registros?


Muito antes de aprofundar meus estudos em rendas eu ouvia a expressão “renda guipure” e procurando por uma definição ou explicação da técnica, nada do que eu ouvia parecia me convencer.
Tudo me parecia genérico demais (e é mesmo, pois você vai descobrir ao longo deste texto), mas vou contribuir para o entendimento técnico e histórico deste termo.
As escritoras Pat Earnshaw, já inúmeras vezes citada em meus textos e Mrs Bury Palliser, que escreveu seu livro “History of Lace” em 1869, foram as fontes de pesquisa para este texto. Iniciamos no século XVI com a Rainha Mary da Escócia...


De acordo com Pat Earnshaw (1982) foi no inventário da Rainha Mary da Escócia, de 1597, que o termo  “guimpeure d’ or” e “guimpeure d’ argent” apareceu pela primeira vez.

Porém, no livro A History of Lace de Mrs. Bury Palliser, de 1869 a autora faz menções aos escritos de Savary (1720) que aponta que nas descrições de vestimentas de Henry II (1133-1189) e Henry III (1207-1272) os termos “cuipure d´or” e “guippures d’ argent” já eram utilizados para descrever adornos de seus vestuários. 

Aparentemente, mesmo tendo grafias diferentes, parecem estar relacionadas ao mesmo significado.  Palliser também reforça em seu livro Mary Stuart usava roupas adornadas com a renda e confirma os apontamentos de seu inventário.

Palliser comenta que o termo “guipure”, por ser um termo francês, pouco aparece nos inventários da nobreza inglesa nos séculos passados, provavelmente o termo em inglês equivalente seria  “parchment lace”, visto que era uma ocorrência frequente nos documentos da época.

A palavra “guipure” com a grafia que amplamente usamos hoje, foi encontrada em um inventário de uma igreja de Paris no século XVII nas expressões “de taffetas blac  garny d’ une guipure” e “de satin blanc à fleurs, avec une dentele de guipure”.

Tanto nos séculos passados como atualmente,  “guipure” é um termo genérico que pode ser usado em rendas feitas com técnica de  bilros ou com agulha. Já em 1869 Mrs. Bury Palliser definia o termo de forma abrangente e complementa que, se no passado eram empregados fios de seda, ouro e prata, atualmente fios diversos são usados e há diversidade nas técnicas, formas, cores e tamanhos.  

Mas o que caracteriza claramente uma renda guipure? Simples. 
Basta observar o ponto utilizado entre os motivos (ou desenhos). Para ser usado o termo “guipure” os motivos devem ser unidos por “barras” estreitas e não por base de ligação, como por exemplo, em rede.  A imagem abaixo ilustra os dois diferentes tipos de base de ligação:


Renda com base de ligação entre os motivos em rede

 Carrickmacross guipure

Na primeira imagem, os motivos estão ligados por uma rede, onde os espaços vazios da base são de tamanhos uniformes. Na segunda imagem são unidos por estreitas “barras”, resultando em espaços vazios irregulares.  


Por ser um termo genérico, pode ser vinculado a diferentes técnicas, como por exemplo, a renda Le Puy, Carrickmacross (atenção que há uma forma de tecer essa renda que não se caracteriza como guipure), Honiton, entre outras.


E, voltando a mencionar Mrs. Bury Palliser, o termo guipure é tão extensamente aplicado que é impossível dar limites para as possibilidades de técnicas em que pode ser empregado. 

Comentários

  1. Boa noite, achei muito interessante a postagem sobre a renda guipure.
    Trabalhei durante 23 anos em uma indústria de rendas e bordados em São José em Santa Catarina .
    Trabalhei no setor de criação e era uma das profissionais que criava as rendasceos bordados.
    O guipure era fabricado sobre uma base de seda ou solvron que depous era retirado com água quente ou por processo químico.
    Usávamos fio de algodão e tbem fio de viscose para fabricar as rendas assim como os bordados.
    Mas a renda guipure que conheço uma vez retirado o tecido de base sobrava apenas os fios entrelaçados formando a renda interligadas por finas pernas.
    Fabricavamos as tiras de várias larguras, aplicações, golas, passafitas e laises.
    Por isso achei estranho a foto que tem um trabalho têxtil denominado de guipure, para mim se parece mais com um bordado richelieu.
    Um grande abraço, que pena que nao consegui um livro.

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